Tudo certo aí, camaradas?
Vocês devem ter percebido uma certa irregularidade nas missivas, eu estou de férias e misteriosamente a gente tem menos tempo livre nas férias do que quando trabalha. Vai entender…
Os donos do mundo
É difícil aceitar, mas o mundo sempre pertence ao novo.
A gente pode achar que aprendeu o suficiente, que as gerações mais novas fazem tudo errado ou qualquer bobagem dessas. Com certeza eles erram, da mesma forma que os velhos erraram no passado. Óbvio, os desafios são diferentes, o mundo é diferente, uns tentam ensinar sua visão, outros topam aprender ou decidem seguir por um caminho diferente, no fim todos estarão mortos e nada do que você construiu foi para você.
Luccas Papp é um diretor, ator e autor jovem. Talvez não tão jovem quanto os atores que ele dirigiu em Os Donos do Mundo, mas jovem o suficiente para ser colocado na prateleira da “nova geração do teatro”, mesmo com mais de uma década de estrada.
Já vi uma quantidade razoável de peças do Luccas. Ele é um daqueles autores que nasceu “pronto”, escreve peças que transitam com facilidade do cômico para o sombrio e tem uma ligação muito direta com uma escola de cinema indie americana. Algo que funciona perfeitamente para o teatro, pois, com poucos recursos cenográficos, consegue, por exemplo, criar na mente do espectador um cenário complexo como um mundo em que todos sumiram e só restaram 9 jovens.
Enquanto diretor, diria que melhora a cada espetáculo. Em Os Donos do Mundo, por exemplo, fica claro que tem uma boa visão da dramaturgia, que coreografou e trabalhou muito bem a parte física dos atores (algo que muitos diretores experientes negligenciam), mas, principalmente por trabalhar com um elenco grande e jovem e fazer uma peça centrada no texto, talvez ainda falte um pouco na entrega das falas (para ser justo, fui bem na estreia, é certeza que daqui duas semanas parecerá praticamente outra peça com afinação do elenco que tem, inclusive, atores que impressionam como Bruno Magri e Bezz Parisi).
Mas esse texto não é sobre isso. Tem um ponto extremamente crucial que, ao meu ver, poucas pessoas dão tanto atenção quanto o Luccas: a formação de público. É uma questão da pessoa certa, na hora certa, puxando as cordas certas.
Luccas formou uma base sólida de fãs. Ele encheu o Teatro Itália (que tem quase 300 lugares) logo na estreia e apresentou uma peça comercial de qualidade, o tipo de peça que faz o público sair de lá pensando em ver mais teatro.
Outro ponto importante é que ele tem textos perfeitos para uma faixa etária que é muito negligenciada pelas artes no geral: os adolescentes. Pode reparar, temos um trabalho bem consistente de teatro infantil, pais que se dedicam a levar os filhos desde pequenos para verem peças e conhecerem essa linguagem, mas, dali, no geral, o teatro pula direto para o público adulto.
Sim, é importante ter as peças alternativas, ter trabalhos tecnicamente impecáveis que, sem dúvida, vão ganhar uma dúzia de prêmios outorgados por uma crítica sisuda (como é o caso de Mutações). É importante ter o teatro como ato político cultivado pelo Zé Celso, Satyros e outros. Mas nada disso adianta se não tiver alguém sentindo a pulsação do público “geral”, se não tiver formação e manutenção de público de teatro comercial.
Serviço
12 de Agosto à 30 de Setembro / Sábado às 17h
R$ 70,00 / R$ 35,00 - Teatro Itália - São Paulo
https://www.instagram.com/osdonosdomundo/
Teatro Itália
Aliás o Teatro Itália tem sido uma revelação nesse sentido. Com uma programação variada, no momento, estão com Os Donos do Mundo; uma montagem muito fofinha de Noites Brancas (que eu já vi quando passou pelos Parlapatões), O deus de Spinoza e outras peças ocupando dias e horário diferentes.
Obviamente isso gera limitações técnicas, menos recursos de luz e cenografia a disposição do que se teria se a sala se dedicasse a um espetáculo por vez, mas, como disse, há outros espaços consolidados que fazem o “teatrão” hermético, mas quem forma público mesmo é o teatro mais “comercial”, principalmente quando bem executado.
Ideias roubadas

Financiamentos coletivos
Tem algumas publicações aí levantando recursos que eu já apoiei e recomendo:
Macanudo #11
Sou muito apaixonado por Liniers e sempre que a Zarabatana traz uma coletânea nova desse argentino eu quero ter. Se você não conhece, essa é a chance de adquirir vários exemplares (vai sem medo, tudo é excelente). Se você já conhece está na hora de comprar uma edição nova. Apoie aqui
Damasco
A HQ nova do Lielson com arte Alexandre S. Lourenço está em pré-venda no site da Braza. Compra lá que vai ser bom.
Peixes no asfalto
A Gabriela Lemos que manda muito bem nos textos para teatro, recentemente escreveu e dirigiu M4ano, vai lançar um livro de contos. Você já pode adquirir na pré-venda e dar uma força para a produção comprando aqui.
Ideias Roubadas

Minhas aventuras com o Superman
Está disponível na HBO essa versão mangá/juvenil com um Superman que ainda está descobrindo sobre os poderes dele e tentando entender como ser herói. É bem para formação de novos públicos e tem uns momentos muito bons como esse diálogo que acontece logo depois do Superman usar o próprio corpo para proteger a Lois de alguns disparos:
Lois: Você sabia que você é à prova de balas?
Superman: Não, mas eu sabia que você não é.
Pintores
Essa semana trouxe um estilo um tanto diferente para sairmos um pouco desse eixo de arte ocidental.
Yosa Buson [Taniguchi] (与謝 蕪村) (1716/1784) é um pintor e poeta japonês do Período Edo (1603-1867)
Algo que me chamou muito a atenção na arte de Yosa Buson foi o desenho estilizado com uma beleza e simplicidade que o ocidente usa como um estilo atual até hoje, principalmente em cartuns e HQs. Mais do que uma representação elegante, o desenho tem movimento, profundidade e conserva proporções realistas.
As pinturas de paisagens típicas da arte oriental clássica têm um charme inexplicável. São artes que contrapõe a complexidade do cenário com a simplicidade do desenho de uma forma ímpar, além do uso singelo de cores e tonalidades sutis.
P.S.:
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