Caderno de Recortes #87 - Reforma Tributária/Mutações/Hélio Oiticica
Como vão, caros leitores?
Sabe que o ano passado e o anterior pareceram tão desoladores e apocalípticos e urgentes que confesso que é quase uma surpresa o quanto foi rápida essa primeira metade de 2023. A gente prendeu a respiração ali no começo de janeiro, mas, depois, a sensação de normalidade e de que a vida seguirá parece que assentou. Já dá até para fazer projetos que vão além de sobreviver.
Ideias roubadas
Tudo que você precisa saber sobre a reforma tributária
Vou resumir agora, do ponto de vista técnico os pontos mais relevantes da reforma tributária e como ela vai mudar sua vida:
Nada mudou ainda, não sofre.
Tem os que celebraram, tem os que lamentaram, já fizeram rosários sem fim sobre os benefícios e os problemas da reforma fiscal, mas, o fato é que, por mais que tenha sido dado um passo que muitos consideravam impossível, ainda é cedo de mais para qualquer análise. A reforma ainda tem que passar pelo Senado, onde pode seguir, morrer ou ser alterada (o que implica em voltar para a Câmara). No melhor dos cenários, mesmo aprovada esse ano, vai demorar mais de uma década para ser implantada na sua totalidade e, conhecendo nossa tradição procrastinadora, esse prazo pode se esticar muito.
O saldo verdadeiro dessa semana foi o recado de que a “sociedade civil” (leia-se o grande capital) finalmente está a favor da reforma e poucos políticos vão se aventurar a bater de frente com quem paga a conta do jantar deles.
Agora, se você está totalmente por fora e gostaria de ter uma ideia geral do que é essa tal reforma, recomendo essa entrevista com o Bernado Appy no Roda Viva. Não concordo com tudo que ele fala em termos de visão de mundo, mas Appy é um sujeito que dedicou a vida a ver a implantação desse novo modelo de imposto com a premissa de que, mesmo se não diminuir em nada a carga tributária, a simplificação do sistema é tão drástica que melhora muito o ambiente comercial do país.
Mutações - dica de teatro
Vivenciei ontem a peça Mutações de André Guerreiro Lopes. Olha… não tenho nem palavras. Fácil uma das melhores peças do ano.
Mutações está longe de ser um teatro tradicional de diálogo e narrativa. É um texto dadaísta, uma construção poética dramatizada na forma de um jogo teatral complexo entre três atores que criam um caos tão perfeito que tudo parece ao mesmo tempo espontâneo e metodicamente planejado.
É preciso reverenciar o trabalho e a preparação do elenco, Luis Melo, Andréia Nhur e Alex Bartelli que entregam uma peça de uma complexidade absurda sem erros do começo ao fim. Obviamente a presença de palco de Luis Melo o coloca no centro das atenções, mas a performance de Andréia Nhur, principalmente nas cenas em que ela canta, é espetacular.
Além disso é preciso aplaudir por dias a produção da peça. A cenotécnica é impecável (o nível de recursos que o Teatro Anchieta no Sesc Consolação oferece é assombroso quando bem operado), a trilha sonora original de Frederico Puppi tem um encaixe perfeito com todas as cenas e a construção visual que dá vida ao vento em suas diversas formas no palco é algo indescritível.
A peça é poesia pura em todas as suas dimensões.
Mutações é um tratado detalhado sobre porque o teatro é algo efêmero e único que só faz sentido se vivido presencialmente.
MUTAÇÕES
Estreia nacional: 7 de julho de 2023, sexta-feira, às 20h.
Temporada de 7 de julho a 20 de agosto de 2023
Sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 18h.
Local: Teatro Anchieta – Sesc Consolação (Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo).
Pintores
Essa semana perdemos Zé Celso, o último tropicalista, o último gigante de uma geração de diretores e atores que definiram o que é o teatro contemporâneo brasileiro.
Em homenagem a ele, essa semana trouxe para vocês os quadros de Hélio Oiticica (1937 - 1980) , o pintor que deu o nome ao movimento de resistência cultura tropicalista que norteou toda a história do Teatro Oficina.
Apesar de ser mais conhecido por suas instalações artísticas, Oiticica levou a poesia concreta para o campo da pintura. Seu trabalho era principalmente com gouache e trazia uma geometria provocativa que influencia o design nacional até os dias de hoje.
PS.1 O Oficina vive
Pouco tempo antes de morrer, Zé Celso deixou para Marcelo Drummond, seu companheiro e produtor que ajudou a manter o teatro viável ao longo desses anos esse palco único remodelado por Lina Bo Bardi. O Oficina é um espaço peculiar, diferente de qualquer outro palco que você pode encontrar em São Paulo e, com certeza, o legado de Zé Celso prosseguirá.
P.S. 2:
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