Como vão os prezados destinatários dessas missivas? Seguimos pela quaresma em direção a Páscoa, quando a forma se impõe sobre o conteúdo e o preço do chocolate se multiplica ao ser transmutado em casca de ovo. (abertura meio pomposa, não?)
Gênio da raça
Semana passada citei o tal Ateliê, a escola de arte que supostamente virou seita. Como disse, um pensamento constante ao ouvir essas histórias é: por que a pessoa caiu nesse esquema?
O querido Amálio Damas lembrou que várias empresas também têm uma cultura de seita. Algo que vem sendo reforçado desde os anos 90 com a invenção das “consultorias” mirabolantes - hoje convertidas em coucherias quânticas - que buscavam extrair o máximo dos funcionários criando um culto a felicidade no trabalho e ao prazer de “vestir a camisa” da pessoa jurídica que pouco paga e muito exige.
Um dos elementos que compõe várias das histórias de seitas e cultos e costuma estar presente nos golpes e esquemas financeiros {muitos deles derivados do bom e velho esquema de pirâmide ou esquema Ponzi} é a ideia de se ter um conhecimento que ninguém tem, se apropriar de uma vantagem que poucos tem acesso, só gente esperta de verdade, como a vítima do golpe.
Parêntesis para falar sobre quem construiu as pirâmides (eram os deuses astronautas?)
(not so) Fun fact:
Sem tergiversar, por favor
Como dizia antes de me perder nos vórtices da história, tanto as pessoas que entram em seitas quanto as vítimas de golpes muitas vezes são bem inteligentes e ouviram a vida toda elogios a sua capacidade acima dos demais. Então não parece uma grande surpresa para eles quando descobrem uma oportunidade única que todos pareceram ignorar.
Recentemente tivemos o caso de Gustavo Scarpa. O jogador de futebol, elogiado por sua intelectualidade …
… seguindo os conselhos do também jogador Willian Bigode, ele investiu cerca de R$ 6 milhões em um esquema desses que faz seu dinheiro desaparecer. Segundo Bigode, agora só resta rezar porque só Deus traz o dinheiro de volta.
Sempre fico um pouco dividido nesses casos. Quero sentir dó, quero lembrar que a vítima nunca é culpada, mas porra… apostar R$6 milhões em uma dica de investimento de retorno assombroso só porque o Bigode falou que era uma boa. Pior que isso, é muito difícil ter compaixão por alguém que (mesmo que de forma inconsciente) se acha tão esperto que pode levar uma vantagem que só ele, o Bigode e mais ninguém vai ter.
Prova de força
Estamos na era dos reality shows e tem programas desse tipo para todo gosto. Além das competições culinárias, uma temática que eu gosto bastante são testes de força.
Nunca fui fã de esportes (nunca vi nenhum desses jogadores que eu citei jogando, inclusive quando vi a notícia pela primeira vez, pensei se tratar de um parente do Chiquinho Scarpa), mas essas competições menos olímpicas me fascinam.
Recentemente assisti The Climb (na HBO Max) e a Batalha dos 100 (na netflix). O primeiro é um programa de escalada e o segundo é um programa coreano de culto ao corpo para encontrar a pessoa mais forte ali naquele grupo.
Sim, é uma bobagem, mas, sei lá, acho divertido ver as pessoas nesses esforços sobre-humanos.
Pintores
Seguimos mergulhando no turbilhão de caos Max Ernst.
Uma questão interessante ao longo da obra de Ernst é o quanto ele era técnico no desenho e na pintura e isso cria um contraste peculiar com a temática surrealista usada (hoje em dia Joan Cornellà usa esse contraste de arte x tema muito bem). Veja nesses dois quadros acima como a composição tem uma série de elementos gráficos (como as linhas concêntricas) que torna a obra muito harmônica visualmente ao mesmo tempo que representam cenas que nos provocam a pensar na falta de sentido dessa arte como um todo.
Esse quadro chama Ubu Imperador, eu separei ele primeiro porque tem um visual fantástico e, segundo, porque remete a figura grotesca do Pai Ubu, um personagem central na peça Ubu Rei de Alfred Jarry considerada o marco inicial do Dadaísmo, movimento que permeia a obra de Ernst junto com o surrealismo.
De novo, uma oportunidade de admirar a aptidão técnica do pintor.
Esse quadro é muito interessante porque perverte uma temática constante na arte clássica, as imagens sacras. Quando a igreja era o principal mecena, a maioria dos quadros tinham uma temática religiosa e a figura da Maria com o bebê Jesus está em centenas, talvez milhares de pinturas. Aqui Maria senta a mão no bebezinho santo com tanto gosto que a auréola dele até cai no chão, tudo isso enquanto um pessoal ali na janela pratica a arte da fofoca.
Esse tipo de ilustração vai estar presente na série da próxima edição da newsletter, mas não canso de ver esse nível de hachura aplicado em uma arte figurativa anárquica.
Esse quadro é bem curioso. Tem uma cor linda e um traço estilizado com uma estética que está presente até hoje em histórias em quadrinhos, por exemplo. É muito interessante como Ernst seguia uma série de regras de balanceamento entre linhas curvas e retas e chegava nesse resultado que parece muito atual.
Fala jovem! Muito obrigado pela citação à minha pessoa, me sinto honrado. Cara, eu também gosto desses programas de competição de força, principalmente pra ver gente quebrando a cara, não no sentido literal. gosto daqueles caras/minas que ficam se gabando, consegui isso, consegui aquilo, sou foda e pápápá, aí o cara se estrepa na primeira fase, dou muita risada. Tinha um no Netflix que era apresentado pelo The Rock, mas já saiu de lá e tem aquele Beastmasters, que acontece em um esqueleto metálico de Dinossauro. Estou vendo um culinário agora que não tem jurados, os próprios competidores votam uns nos outros, chama Chefs sob Pressão. Tem um outro que está na Paramount+ que chama The Chalenge All Stars, que é legal também. Já de Pirâmide, a financeira, eu não gosto e fico puto quando aparece essa história de seres de outro planeta construindo Pirâmides, é desmerecer muito os engenheiros Egípcios e Astecas. Grande abraço!