Tudo certo por aí com vocês?
A telepatia são os outros
Antes de falar sobre esse livro, preciso contar duas anedotas.
Conheci a Ana Rüsche no começo dos anos 2000 quando estávamos na faculdade de direito e eu frequentava a Academia de Letras do Largo de São Francisco em que a Ana era presença constante com seus poemas. Sai da faculdade porque não me identificava com o curso e a Ana não só se formou como saiu doutora de verdade (não esse “dotô” pró forma que atribuímos a qualquer advogado) e doutora em algo realmente interessante, Letras, com uma tese sobre Ursula Le Guin e Margaret Atwood.
Um belo dia, chega em casa um envelope que não era para mim mas era EXATAMENTE para o meu endereço e a remetente era Ana Rüsche. Não tinha contato com ela há anos, mas convenhamos que é um nome bem singular. O envelope continha o livro de poemas Rasgada que, sinto dizer, nunca chegou a seu verdadeiro destinatário (nem me lembro o nome da pessoa), mas foi lido com carinho e passado adiante.
Dito isso, “reencontrei” a Ana Rüsche recentemente quando mudei essa newsletter para o substack, pois o aplicativo me recomendou os textos
(também recomendo a todos). Lendo os textos, descobri que ela havia publicado A telepatia são os outros, esse romance que é o tema de hoje.Particularmente, com raras exceções (com Le Guin e Asimov), não sou grande fã de ficção científica/literatura fantástica. Minha sensação é que a maioria dos autores nessa área são pessoas com ideias fantásticas, mas com uma execução literária que deixa a desejar. Falta justamente aquela poética, aquele cuidado com a palavra como sedimento para dar corpo a essas ideias.
Por isso, sempre que tenho a oportunidade de ler algo bem escrito nesse gênero fico muito feliz. [Um parêntesis (colchete na verdade, o parêntesis é esta observação inútil aqui) para recomendar Kentukis de Samanta Schweblin que veio a minha mente agora nesse prelúdio sobre ideias fantásticas bem desenvolvidas]
Em A telepatia são os outros seguimos a história de Irene, uma fisioterapeuta de 50 anos que perde a mãe e se demite do emprego em que estava há 15 anos e que, nesse momento à deriva, é conduzida pelo acaso para um retiro misterioso no Chile. Ela chega nessa comunidade justamente quando vaza para o mundo a notícia de que ali é produzido um “chá” que ativa a telepatia nas pessoas.
Essa ideia peculiar de uma substância que pode universalizar a telepatia e todos os desdobramentos dessa situação são o pano de fundo de um livro lindo sobre luto e sobre jornada pessoal.
No fundo, compartilhar vergonhas é uma forma de lançar a ponte da empatia. Talvez seja uma forma muito eficiente de entrar em contato com os pensamentos dos outros. Uma forma de pedir licença.
O livro é uma publicação da Monomito Editorial, tem a venda no site da editora ou na
(que foi onde eu comprei)Enquanto isso…
Toda vez que eu vejo uma notícia com algo muito peculiar, como essas cartelas de Cialis (uma delas cortada) dentro de um cofre com caralhentos milhões, me lembro do filme O homem que copiava do Jorge Furtado, em particular do plano final que envolve uma galinha dentro de uma geladeira. Pra que a galinha? Porque todo mundo vai falar só da questão bizarra da galinha estar ali e deixar o que importa de lado.
Enquanto isso II
E, com a aprovação da revisão do plano diretor, Ricardo Nunes e Milton Leite seguem vendendo a cidade de São Paulo.
Pintores
Em homenagem ao livro da Ana Rüsche que se passa no Chile, essa edição e as próximas trará imagens de Juan Francisco González Escobar (1853-1933), considerado um dos primeiros pintores modernos chilenos.
Esse é um autorretrato. Algo que eu gosto muito são essas pinturas a óleo que tem as pinceladas bem marcadas em que é possível ver onde a cerda do pincel passou. Isso cria manchas muito expressivas, cheias de movimento e marcam o gestual único do pintor.
Observe que fantástico esse cabelo que se integra com o fundo da imagem.
Esse é um trabalho bem peculiar (tem toda cara de encomenda). Um quadro com uma definição extrema dos elementos e uma composição de uma cena narrativa. É interessante ver a flexibilidade artísticas dos pintores.
Eu acho essa paisagem tão simples e tão linda. Tudo que importa é aquele topo alaranjado da cordilheira.
Boa parte do trabalho desse artista envolve flores e frutas, mas é interessante observar o trabalho gestual dele nessas imagens.
Por fim uma paisagem linda com a luz solar refletindo na água.
P.S.
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